Pedagogia? Mas isso não é para criança? Por que precisamos de uma pedagogia social? Aliás, quem precisa? Só os professores? Só aqueles da área de humanas? Só os psicólogos? Muito engraçado, pedagogia social para uma empresa? Será que é isso mesmo? Entendemos direito este nome?
Muito estranho! Em linhas gerais uma atitude pedagógica diz respeito à educação. Reeducar o adulto para sua vida social. Mas ele já não é educado? O que faz com que em nossos atuais tempos modernos precisamos ser reeducados? O que nos faz crer nisso? Milhões de perguntas não querem calar, uma chuva de porque(s), como(s), para que, quando, de que maneira, com quem, qual o melhor jeito, quem lidera, como conciliar e aí vai numa infinidade… Selecionei algumas: Como posso usar minhas forças internas para buscar uma relação harmoniosa? Como equilibrar e criar uma linha coerente entre o meu pensar, o meu sentir e o meu querer? Como posso pensar uma coisa, sentir outra e querer outra? Estou doente ou é assim mesmo? Que nível de rompimento tenho que fazer comigo mesmo e com meu ponto de vista, para ir em direção ao outro? De que devo abrir mão? Muitas vezes penso que não me sinto pertencer, estou lá mas não sou de lá.
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O mundo vai rápido demais e não dá tempo de atuar como gostaria, fica tudo mal feito e mais ou menos. Existe um caminho para a liberdade? Como atuar com responsabilidade? Bem, pode-se continuar com estas perguntas até o fim deste artigo, mas não é esta a intenção, da mesma maneira que não vamos encontrar aqui respostas para estas perguntas. Elas fazem parte de um caminho pedagógico de mudança social. Como nos educamos? Quando pequenos somos colocados na escola pelos pais, e lá aprendemos tudo o que já foi vivido e comprovado pelas diversas culturas pelas quais a humanidade já passou. Na Escola tradicional, ou clássica, aprendemos sobre o passado.
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Em tese o estudo tradicional ensina para o pensar, para o conhecimento histórico, para a confirmação da ciência. Mesmo na escolha da profissão ainda estamos mais voltados para este conhecimento do passado. A escola vai nos oferecer a oportunidade de sabermos sobre o que já foi pesquisado, descoberto e comprovado. Neste caminho “escolar” desenvolvemos nossas “CAPACIDADES” e entramos em contato com nossos dons, talentos, potenciais. Logo depois de formados, com o diploma na mão e a cabeça cheia de conhecimentos, vamos com toda a garra para o mercado de trabalho. Alguém lembra? O que acontece? Não quero entrar na questão da dificuldade de conseguir o trabalho ou o emprego. Quero me ater ao fato do que fazemos com este conhecimento adquirido. Vem a primeira decepção. Onde coloco tudo o que aprendi? Surgem duas principais possibilidades: Ou eu quero colocar a força o que aprendi e obrigo o outro a “precisar” do que eu sei ou fico sem saber o que fazer. Neste momento acabo pensando que preciso aprender mais. Este é um bom momento de nos matricularmos numa segunda escola. Agora uma escola mais social.
A Escola da Vida. Nesta escola começamos a perceber a “NECESSIDADE” do outro. Começamos a aprender que nem tudo o que veio da escola clássica cabe na escola da vida e temos que discernir entre o que é preciso ou não. O grande aprendizado então é: como posso disponibilizar minhas “CAPACIDADES” em função das ‘NECESSIDADES’ dos outros. Este aprendizado se desenvolve no âmbito do sentir. Biograficamente estamos no período dos 21 aos 42, ou estendendo mais um pouco até 50 anos. O que podemos então perceber como pedagógico social neste momento? Neste período é que acontecem as grandes dificuldades, ou seja, não é assim tão simples dispor nossas capacidades em função das necessidades dos outros. Saindo daquela fase do aprendizado por obrigação, o que nos motiva a desenvolvermos capacidades é a dúvida. Só que, cada um tem a sua motivação e cada um tem a sua dúvida. Se vivemos em sociedade, vivemos com um grupo de pessoas individualmente com dúvidas. Então nos encontramos e discutimos cada um sobre a sua dúvida, e, é no diálogo que procuramos encontrar um ponto comum.
Mas, como conversamos? Será que procuramos mesmo achar um comum, ou será que tentamos impor a nossa dúvida para o outro? Só me é simpático àquele que tem uma dúvida igual a minha, caso seja diferente anulo a pessoa da minha vida. No âmbito das necessidades acontece a mesma coisa. Para sobreviver tenho necessidades básicas. Minhas necessidades estão no âmbito do querer, ou das ações. Hoje a nossa necessidade mais premente é a financeira. Então eu preciso colocar no mundo de qualquer maneira o que sei porque preciso sobreviver. Se ainda tiver que ficar prestando atenção na necessidade do outro vai demorar muito e as minhas contas vencem a cada início de mês. O que fazemos? Vamos para o outro com a nossa necessidade, e o mesmo acontece com o outro em relação a mim.
Estamos sempre recebendo do outro as suas necessidades. Então na sociedade, ou em determinado grupo estamos sempre esperando que o outro supra a nossa necessidade. Quando vou para o outro com a minha capacidade estou sempre impondo e dominando. Quando vou para o outro com a minha necessidade estou sempre explorando, desejando ser suprido(a). Neste momento precisamos então nos matricular numa terceira escola. Esta é a Escola do Eu, uma escola mais espiritual, de autodesenvolvimento. E o que devemos aprender nesta escola? Estas capacidades que estão no âmbito do pensar e necessidades que estão no âmbito do querer precisam se interrelacionar. Claro, as minhas capacidades com as necessidades do outro. Este é o verdadeiro espírito pedagógico social. Esta é a lei básica social. Quem deve ser então o mediador? Precisamos dos “ACORDOS’.
A palavra acordo vem do grego e significa junto com o coração. Surge outra mágica que é o amor. É isso que devemos aprender nesta Escola do Eu, junto com o coração e por amor ao próximo devemos disponibilizar nossas capacidades em função das necessidades dos outros. Mas, tem aí um segredo, que também faz parte deste caminho de autodesenvolvimento. Não podemos esquecer que isto só deve acontecer quando estou sendo um Ser Social. Quando falo de mim tenho que desenvolver minhas capacidades através de minhas dúvidas e suprir minhas necessidades através do meu egoísmo e dos meus desejos. Agora quando for em direção ao outro tenho que fazer uma transformação: Minha dúvida precisa ser transformada no interesse pela dúvida do outro Meu desejo ou egoísmo tem que ser transformado em responsabilidade pela necessidade do outro. E, nesta escola do Eu preciso aprender a fazer acordos, não olhando para as pessoas de tal maneira em que as classifique em simpáticas ou antipáticas mas com o coração, com o amor, desenvolvendo cooperação. Nisso nos encontramos num fluxo social pedagógico e ecologicamente correto de tal forma que o tecido social possa se fazer da seguinte maneira: . Quando mobilizo capacidades busco desenvolver uma sociedade mais justa.
Quando satisfaço necessidades me proponho a um maior poder criativo em relação ao outro. . Quando procuro estruturar as relações sem classificação de simpatia e antipatia me sinto mais amoroso(a). O pouco que conseguirmos fazer nesta direção já estaremos contribuindo para a transformação e mudança mais consciente deste mundo das relações, dos encontros e principalmente dos desencontros, de guerras, de domínio político, de diferenças religiosas, de poderio econômico, e de tantas coisas mais que nem precisamos relacionar.
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(*) Conhece a antroposofia deste 1977 quando estudante de Ciências Sociais pela UFJF – em Juiz de Fora – MG. Mineira de Barbacena, mudou-se para São Paulo no ano de 1980 onde fez o seminário para professores Waldorf e acompanhava como aprendiz as atividades de terapia artística na Clinica Tobias. Fez parte do primeiro seminário de pedagogia social em 1979 com o casal Lex e Johanna Bos, daí em diante sempre continuou neste caminho. Fez vários cursos ligados a antroposofia e trabalhou no Centro Paulus durante 4 anos. Mais tarde fez a formação em biografia humana e organizacional. Atualmente atua como biógrafa junto ao Grupo Mineiro de Biografia, é sócia da Éthica Consultoria e Treinamento e membro da Associação de Pedagogia Social de base antroposófica no Brasil, atuando em diversos seminários de pedagogia social. É também membro da Sociedade Antroposófica no Brasil e faz parte do Ramo Francisco de Assis na cidade de Belo Horizonte onde reside.